ESPEAD 2008
(O quadro sobre aprendizagem e desenvolvimento está abaixo)
Atividade final
1- Para iniciar, convidamos cada um a apresentar um quadro que mostre o “antes” (concepções anteriores ao trabalho) e o “depois” (concepções construídas no decorrer do trabalho), relativo a todas as teses sobre aprendizagem e desenvolvimento trabalhadas. Nas teses em que não houve mudança é só repetir.
Os quadros abaixo foram a atividade do semestre sobre aprendizagem e desenvolvimento. As "concepções construídas no decorrer do trabalho" estão expressas nos próprios quadros.
As minhas concepções de aprendizagem anteriores ao trabalho eram realmente redutivas. Confesso que li quase nada sobre Piaget e teorias da educação de modo geral. Meu interesse ficou muitos anos voltado apenas para as pesquisas históricas. Assim, não aproveitei sequer o pouco que se poderia aprender em apenas duas ou três disciplinas dos cursos de licenciatura. Como resultado desse desinteresse, minha noção de construtivismo era mais associada às más interpretações e às distorções da teoria do que à teoria em si. Antes de entrar no Espead tinha em mente o construtivismo como um método de ensino que na prática não ensina nada, por deixar os alunos livres para construírem o conhecimento sozinhos, fazendo só o que têm interesse em fazer - ou seja, fazerem tudo o que quiserem, menos estudar. O papel do professor - nessa minha concepção completamente distorcida - era quase nulo. Por isso não acreditava no construtivismo, mas também não tinha outra teoria da educação para orientar. Ou seja, na prática, minha concepção de educação era tradicional: estudar muito e entender o conteúdo era satisfatório.
Quando esntrei no Espead, no segundo semestre de 2007, lembro de um momento de aula expositivo da prof. Rosane, quando aprendi que construtivismo não é um método de ensino, é uma teoria epistemológica do conhecimento que considera o conhecimento como uma forma de equilíbrio entre o que já se sabia e o conhecimento novo. O que eu considerava "resultado" do estudo é o conhecimento construído, o momento final de um processo complexo que é a desconstrução e construção do conhecimento.
Nesse semestre de 2008/1, as teorias de aprendizagem e desenvolvimento foram aprofundadas. A educação ganhou novos sentidos para mim, e agora não entendo mais a educação como um ensino que deve alcançar resultados, mas como um processo que constrói conhecimentos - o conhecimento construído é apenas um momento, e jamais é o objetivo final e definitivo, porque mesmo o conhecimento contruído é transitório.
(As demais atividades estão depois do quadro abaixo).
Aprendizagem
Tese |
Discordo |
Concordo |
Não consigo decidir |
Motivos |
Quadro 2 Revisão de conceitos |
1Aprendizagem é o processo de interação entre os indivíduos e com o meio que provoca mudanças de comportamento, originando novas formas de pensar, agir, viver... |
O comportamento pode se modificar em decorrência de novas aprendizagens, mas a aprendizagem não se reduz a mudanças comportamentais. |
Já a construção de novas formas de pensamento decorre de processos de aprendizagem, em que os saberes são assimilados e reequilibrados pelo sujeito nas estruturas de conhecimento em construção. |
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Continua o mesmo |
2Aprendizagem é um processo, inerente ao ser humano, capaz de promover o desenvolvimento e a aquisição de habilidades e competências; novas formas de vermos o mundo e agirmos nele |
Segundo Piaget, o desenvolvimento humano tem uma estrutura constante que atravessa etapas sucessivas desde a infância até a vida adulta, enquanto a aprendizagem é provocada pela interação do sujeito com novas informações do meio |
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Corrigindo, o desenvolvimento tem uma seqüência constante de construção de estruturas de conhecimentos, e não uma estrutura constante |
3 Ampliação de nossas percepções, capacidades, entendimentos num movimento de construção-desconstrução |
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A aprendizagem capacita e amplia percepções ao construir relações entre saberes |
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Continua o mesmo |
4A interação com o ambiente nos vai acionando potencialidades. Tais potencialidades poderiam ser entendidas como inatas |
As diferentes potencialidades constituem-se somente na medida em que o desenvolvimento progride, por etapas |
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Continua o mesmo |
5Todo sujeito tem as mesmas condições e as mesmas potencialidades de desenvolvimento e aprendizagem |
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Determinados indivíduos revelam diferentes níveis de interesse por diversos temas, de modo que as aprendizagens ocorrem de modo individual, sendo difícil comparar dois processos distintos. Todos têm a mesma capacidade de aprender, e as aprendizagens dependem de vários fatores relacionados ao desenvolvimento, aos interesses dos individuos e à maneira como a aprendizagem se processa - mediadores, bloqueios, etc. Não tenho certeza se é isso mesmo. |
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Concordo. Qualquer pessoa tem condições de aprender, desde que tenha construído esquemas (ou estruturas) de conhecimento suficientes para assimilar a complexificação progressiva dos estímulos, possibilitando novas aprendizagens |
6Envolve aspectos sociais, biológicos, cognitivos e de constituição do ego |
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*Sociais: relacionada à construção do respeito, da colaboração e da autonomia
*Biológicos: depende do desenvolvimento cerebral
*Cognitivos: depende da relação entre o desenvolvimento cerebral e a construção de saberes
*Constituição do ego: relacionado à autoconsciência e à consciência do outro (anomia, heteronomia e autonomia)
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Continua o mesmo |
7Acontece em função das necessidades |
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A aprendizagem acontece em função das estruturas de conhecimento, que assimilam os estímulos do meio conforme a necessidade ou a motivação. Quando há uma desequilibração da estrutura preexistente, surge a necessidade de alcançar o equilíbrio novamente para consolidar o conhecimento novo. |
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Continua o mesmo |
8Aprender é construir saberes, utilizáveis nas situações mais diversas da vida |
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Aprender é processo de equilibração interna e adaptação ao meio, no qual constroem-se saberes que podem se articular em diferentes situações, resultando em processos criativos |
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Continua o mesmo |
9 É o saber da experiência, no sentido de Jorge Larrosa. É aquilo que transforma sua forma de agir, de pensar, seu modo de ser |
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Experiência individual e significativa. Nesse sentido, tem relação com a aprendizagem de Piaget, quando o aprendiz constrói conhecimentos e se constrói enquanto ser pensante e ser social. |
Não conheço quase nada sobre Larrosa |
Concordo. Experiência individual, vivenciada de forma particular, surgimento de incertezas e dúvidas. Esse saber tem relação com o processo de aprendizagem, ou seja, assimilação de informações da realidade e proceso de reestruturação do sujeito frente às novas percepções da realidade. |
10 Aprendizagem é algo que precisa ser constantemente “provocada”, “incitada”; |
O estímulo externo só faz sentido se facilitar o processo de assimilação e acomodação, e não é pré-requisito para que ocorra a aprendizagem, que pode ser motivada pelas necessidades e interesses próprios do aprendiz |
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Concordo. Se o aprendiz revela motivação, é porque algo "provocou" essa motivação. |
11Aprendizagem é um processo de transformação do comportamento |
Igual ao 1 |
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Continua o mesmo |
12Aprendizagem é o processo pelo qual a mente humana transforma sua capacidade de dar significado ao mundo |
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A aprendizagem verdadeira é significativa, i. é., não só muda informações registradas, mas constrói estruturas de conhecimento capazes de relacionar e dar novos significados às coisas. |
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Continua o mesmo |
13Aprender significa mudar comportamentos, atitudes, construir novos esquemas |
Igual ao 1. Construir novos esquemas é uma capacidade que depende do desenvolvimento |
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Continua o mesmo |
14Envolve conhecimento, habilidades, atitudes ou valores e a área afetivo-emocional |
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A aprendizagem constrói conhecimentos e pode trazer mudanças de atitudes ou valores. Depende do desenvolvimento progressivo de habilidades. Os aspectos emocionais são importantes para o processo cognitivo e para a motivação do sujeito que aprende. |
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Continua o mesmo |
Desenvolvimento
Tese |
Discordo |
Concordo |
Não consigo decidir |
Motivos |
Quadro 2 Revisão de conceitos |
1Desenvolvimento é o alargamento de conceitos e capacidades |
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No processo de desenvolvimento ampliam-se as capacidades, inclusive as de formular conceitos abstratos e complexos |
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Continua o mesmo |
2 Desenvolvimento é processo de mudanças sem comprometer sua capacidade evolutiva |
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Como assim?
Desenvolvimento não é uma capacidade evolutiva, que acontece progressivamente?
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O desenvlvimento são as mudanças que ampliam a capacidade evolutiva |
3 Desenvolvimento significa modificações e novas formas de compreensão |
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Desenvolvimento está relacionado à formação de estruturas do conhecimento. A construção de conceitos implica um processo de agir sobre o objeto, modificando-o, e assim surgem novas formas de compreensão |
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Continua o mesmo |
4 O desenvolvimento é resultado das aprendizagens |
As aprendizagens dependem do grau de desenvolvimento |
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Continua o mesmo |
5 Desenvolvimento implica em mudanças seqüenciais que possibilitam a aprendizagem |
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Seqüenciais, progressivas, graduais... que possibilitam diferentes aprendizagens de acordo com cada etapa, que não apresentam idade delimitada, e sim seqüência ordenada. |
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Continua o mesmo |
6 O desenvolvimento possibilita a aprendizagem |
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O desenvolvimento estrutura a aprendizagem |
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Continua o mesmo |
7 O desenvolvimento é um processo gradual, resultante de estímulos, motivações e experiências, e que compreende crescimento, avanço, evolução (cognitivo, psicomotor, afetivo, físico) |
O desenvolvimento não depende de estímulos, não se resume a uma resultante; embora seja influenciado pela relação entre o indivíduo e o meio. |
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Continua o mesmo |
8 O desenvolvimento cognitivo comporta uma série de estágios |
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Sim, e a evolução desses estágios depende da maturação biológica e recebe influência das relações com o meio por experiências e transmissão social. |
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Continua o mesmo |
9 Para que haja aprendizagem é necessário que o aprendiz tenha um determinado nível de desenvolvimento. Por outro lado, diz-se, também, que a aprendizagem influencia o desenvolvimento |
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O desenvolvimento é pré-requisito para a aprendizagem. A aprendizagem influencia o processo de desenvolvimento, sobretudo na equilibração ou auto-regulação, quando precisa ocorrer uma compensação entre as estruturas de conhecimentos pré-existentes e as informações novas do meio. |
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Continua o mesmo |
10 Desenvolvimento é o processo de apropriação de diferentes habilidades, significa modificar comportamento |
O desenvolvimento explica novas habilidades, mas isso não tem relação direta com o comportamento |
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Continua o mesmo |
2- Sobre as mudanças apontadas no quadro construído anteriormente, vamos observar: o que mudou? que atividades favoreceram (ou não) as mudanças? como a mudança ocorreu?
A idéia é analisar, explicar as mudanças que ocorreram usando a própria teoria estudada, com foco no processo de equilibração (perturbação- desequilíbrio- equilíbrio majorante). Para tal, uma dica é pensar como as atividades a seguir influenciaram na desestabilização das certezas e reconstruções:
elaboração das idéias para postagem no pbwiki (fase1),
• reelaboração dos quadros sobre aprendizagem e desenvolvimento
• leituras
• aulas expositivas dialogada (professora Rosane)
• troca de idéia com colegas, amigos
Deste último semestre, destaco as aprendizagens no aspecto teórico. Só nesses últimos meses compreendi o que significa a noção de equilibração entre conhecimentos prévios e conhecimentos novos no processode prendizagem. Antes eu concebia o estudo - e essa era a minha forma de estudar - primeiramente como memorização de conteúdos e conceitos. Apesar de já ter experiência com pesquisa, eu mesma me surpreendi quando percebi que, ainda que na prática da pesquisa eu fosse curiosa e investigativa, na posição de aluna eu me tornava mais apática, "passiva". Na verdade, eu desmembrava pesquisa individual - que eu sempre achei mais interessante - de estudo regular seguindo as disciplinas curriculares. Minha primeira aprendizagem sobre o equívoco em que eu estava incorrendo foi logo nos primeiros contatos com o Espead, ainda no ano passado, quando conheci as dinâmicas das aulas com bastante interação e liberdade para a participação de todos os alunos que queriam se manifestar sobre o tema em debate. Depois, lendo os textos, principalmente o pequeno texto sobre desenvolvimento e aprendizagem em Piaget, percebi que no Espead os professores se colocam efetivamente como facilitadores, orientadores, e não como transmissores de conhecimento. Percebi que a diferença está na interação que permite aos alunos expressarem seus conhecimentos, dúvidas e pensamentos incoerentes, pelos quais acabam revelando os conflitos cognitivos. Assim, entendi a importância dos "erros" e confusões, pois mostram que estamos em meio ao processo de construção do conhecimento. Um desses momentos de interação em aula especialmente rico ocorreu em uma aula "expositiva dialogada" orientada pela professora Rosane (dia 20 ou 27 de maio, não recordo ao certo), no qual entendi o sentido de interação sujeito-objeto (não é o objeto que age sobre o sujeito, mas o conhecimento que o sujeito tem dele que permite interagir, construir algo novo), pelo qual o conhecimento não está nem no sujeito, nem no objeto, mas entre os dois, na interação. Por isso o processo de aprendizagem é individual, particular, cada pessoa tem interesses, facilidades e dificuldades próprias. Na mesma aula assimilei melhor e consegui estabelecer uma relação entre o conceito de "zona de desenvolvimento proximal" de Vigotsky e o conceito de "zona de assimilação" de Piaget, ambos relativos às possibilidades de aprendizagem (mas a primeira noção relacionada às influências do ambiente social e a segunda, relacionada ao processo cognitivo individual). Também foi interessante a discussão sobre pensamento: o que é pensar? Qual a diferença entre instinto e pensamento? O pensamento tem a ver com criação, imaginação, com as ações de projetar, prever, abstrair, e não e limita à reação aos estímulos externos. Nossa capacidade de pensamento e de aprendizagem depende da existência de esquemas, estruturas de conhecimento. Quanto mais complexos os nossos esquemas cognitivos, maior nossa facilidade para nova aprendizagens.
Além disso, destaco o texto de Goodson (Currículum, narrativa y el futuro social), pelo qual pude aprofundar essa visão das capacidades de aprendizagem de acordo com a compexificação dos esquemas que construímos ao longo do tempo. O texto destacou a importância da aprendizagem integrada aos processos da vida, da "narrativa", relacionada ao trajeto, aos sonhos de cada um, que tem muito a ver com a forma como aprendemos ao longo da vida. Senti uma identificação muito forte com esse texto à medida em que ia lendo, e me marcou especialmente a visão integrada entre vida e aprendizagem, colocando a aprendizagem ligada não só aos sentidos relacionados aos conteúdos, mas aos sentidos que nós, eternos aprendizes, atribuímos a cada aprendizagem nos diferentes momentos de nossas vidas. Nossas opções têm muito a ver com o nosso "capital narrativo". Essas leituras colocaram por terra minha concepção anterior de educação como transmissão de um conhecimento pronto, acumulação de conhecimentos, memorização de conteúdos. Nesse mesmo sentido, relacionado aprendizado a vivências, foi interessante a leitura do texto de Maturana (para a formação da interdisciplina de Psicologia), sobre a importância do "emocionar" na constituição da cultura e das relações interpessoais. Superei a visão "fria" sobre o estudo.
Acabou-se a divisão (inconsciente) que eu fazia entre o estudo curricular da escola ou da faculdade (memorização) e a pesquisa (investigação). Agora, (pesquisando em História de modo interdisciplinar com Economia e estudando na Faculdade de Educação), ambos processos, de estudo e pesquisa se fundem num movimento de investigação, descontrução, questionamento, construção, ou seja, parte do processo de aprendizagem. Além disso, sempre tive simpatia pela interdisciplinaridade, e agora, vendo as trocas entre as fronteiras disciplinares cada vez mais intensas, transformo a simpatia em certeza. O contato com a estrutura curricular do PEAD foi fundamental para essas mudanças.
3- Para finalizar, ainda que provisoriamente, cada um apresentará uma síntese das idéias atuais sobre a relação aprendizagem/desenvolvimento.
Eu havia elaborado uma síntese no portfólio no dia 29 de maio. Tomo a liberdade de reproduzir o texto postado.
"Como professora formada em licenciatura, senti-me até certo ponto frustrada por ter concluído uma graduação, na qual fiz várias disciplinas de educação, sem ter aprendido essas teorias do conhecimento. Reconheço minha responsabilidade. Devo ser sincera: existe entre os alunos de licenciatura um sentimento desfavorável à faculdade de Educação, um não-reconhecimento da relevância da área de educação frente aos conteúdos específicos das faculdades de licenciatura. Por um lado, essa atitude reflete uma típica defesa de território, uma valorização do próprio curso; por outro, não deixa de ser uma postura imatura. O resultado desse distanciamento é a formação de professores desinteressados sobre a área da educação. Não é um contra-censo profissional?
Voltando à aula dessa semana. Anos depois de formada, estou colhendo os frutos dessa displicência na minha formação. O que é desenvolvimento? Como Piaget explica a aprendizagem? Tive que começar do zero. Posso me aventurar até a fazer uma crítica coletiva à nossa categoria profissional de professores: imaginei que eu seria uma das pessoas que teria mais dificuldades nesses temas, já que a maioria dos colegas de Especialização é formada em Pedagogia e, portanto, leu muito sobre Piaget, Vygotsky, etc. Enganei-me.
Mas já que o problema são os parcos conhecimentos, vou passar ao que interessa: teoria. Vou escrever grosseiramente o que compreendi sobre desenvolvimento e aprendizagem em Piaget, espero não incorrer em nenhuma grave distorção da teoria. Sinto necessidade de fazer esse esforço de síntese.
A partir da leitura da palestra de Piaget intitulada “Desenvolvimento e aprendizagem”, e das últimas aulas, ficaram para mim algumas idéias centrais. Entendi que desenvolvimento refere-se ao desenvolvimento orgânico do corpo e do cérebro, tratando-se assim de um processo espontâneo. Desenvolvimento do quê? De capacidades: estruturas de conhecimento que permitem operar as informações da realidade, ou seja, interiorizar e reverter processos de ação, além das estruturas lógicas, capazes de operar processos lógicos formais.
O desenvolvimento depende de: 1) Maturação (cerebral); 2) Experiência (necessária para formar estruturas ligadas aos conceitos operatórios – a experiência não explica o surgimento das operações formais, como as matemáticas); 3) Transmissão social (assimilação de conhecimentos já produzidos); 4) Equilibração (dos três fatores anteriores).
A equilibração é o fator central por relacionar os processos de desenvolvimento e aprendizagem. Ainda que o desenvolvimento seja um processo espontâneo, ele é influenciado pela equilibração que permite construir conhecimentos novos. Passemos para a aprendizagem.
A aprendizagem é um processo provocado por uma situação externa ao indivíduo, e não cria estruturas de conhecimento, apenas assimila conhecimentos específicos em estruturas pré-existentes. Cada aprendizagem é particular, pois se constrói na relação entre o sujeito que aprende e o objeto a ser aprendido (informação da realidade ou estímulo), construindo-se a partir das particularidades de ambos.
Por isso Piaget afirma que o desenvolvimento explica a aprendizagem, porque a aprendizagem precisa de estrutura de conhecimentos capaz de assimilar as informações novas. A idéia de etapas de aprendizagem parte desse princípio: cada aprendizagem que exige estruturas de conhecimento mais complexas precisa se basear em outra estrutura mais simples, construindo-se em etapas e de forma gradual. Isso explica a relevância do estímulo para que ocorra a aprendizagem: o estímulo pode ser simplesmente assimilado em uma estrutura de conhecimento existente ou pode provocar um desequilíbrio da estrutura já construída para fazer-se assimilar por uma nova estrutura. A mudança da estrutura de conhecimento possibilita a assimilação do estímulo novo, isto é, permite a integração de uma nova informação da realidade em uma estrutura de conhecimento.
É possível sintetizar dessa forma o processo de aprendizagem, também chamado de compensação ativa pela sua característica de reversibilidade. O processo de aprendizagem, por possibilitar que o aprendiz realize o raciocínio inverso, permite eliminar contradições, incompatibilidade e conflitos, promovendo uma auto-regulação na construção do sujeito do conhecimento.
Em poucas palavras, essa é a minha síntese até agora sobre esse tema. Já estou imaginando que daqui a algum tempo vou reler isso e vou me arrepiar de ter tido coragem de postar no blog, mas é essa a intenção: registrar as aprendizagens na medida em que ocorrem. Por desencargo de consciência, cabe apresentar uma defesa prévia: o processo de aprendizagem inclui acertos e erros..."
Comentário: reli essa postagem do blog e não me assustei com o que havia escrito, concordei com que li. Isso não significa que minhas concepções estejam todas certas, significa apenas que elas não mudaram ainda.
4- Considerando as aulas e trabalhos associados que possibilitaram uma reflexão mais focalizada no que entendemos por desenvolvimento e aprendizagem, explorar as implicações para o trabalho de tutor com o aluno e definir estratégias cotidianas que possibilitem-facilitem a aprendizagem dos alunos.
Nesse primeiro semestre como tutora, percebi que a atividade de tutoria num curso a distância permite um acompanhamento dos alunos mais individualizado que o ensino presencial, pois na orientação e avaliação das atividades a distância é necessário acompanhar as manifestações individuais dos alunos diversas vezes ao longo do semestre, por exemplo em fóruns, MSN, trabalhos, e-mail, etc. Isso permite conhecer mais o aluno do ensino a distância que no ensino presencial em que, infelizmente, muitas vezes só se conhece a forma como o aluno está pensando e entendo a disciplina na prova da metade do semestre ou mesmo no trabalho final. No ensino presencial, as manifestação individuais nas aulas muitas vezes não são tão incentivadas quanto no ensino a distância, talvez por se acreditar que, pelo fato de o aluno estar presente em aula ouvindo o professor, ele estaria também, automaticamente, assimilando o conteúdo. Assim, muitas vezes, nas aulas presenciais somente se manifestam os alunos que realmente gostam de falar e se sentem desinibidos o suficiente para se expressar em grupo, enquanto outros alunos são capazes de chegar ao final da faculdade sem nunca terem expressado suas opiniões, apenas realizando as provas e trabalhos - afirmo isso comparando o ensino presencial que vivenciei na faculdade e o modelo de ensino a distância que conheci no PEAD. Sobretudo na área de educação, é fundamental que cada aluno-professor tenha a capacidade de desenvolver uma capacidade autônoma de, a um só tempo, analisar teorias do conhecimento e observar empíricamente o processo de construção do conhecimento percebendo as particularidades culturais, regionais, dos seus alunos.
Entendo que as especificidades do ensino a distância e as necessidades específicas da formação docente casam de forma adequada com as concepções de educação e aprendizagem adotadas no PEAD, onde se estimula a iniciativa individual no estudo e na prática docente do aluno-professor na construção do seu conhecimento e no aperfeiçoamento de sua prática pedagógica.
O conhecimento sobre desenvolvimento e aprendizagem contribui em vários aspectos na prática da tutoria. O tutor tem o papel de companhar os alunos ao longo das atividades do semestre. Isso implica não só ler atentamente todos os materiais da interdisciplina, comentar trabalhos, avisar dos prazos e tirar as dúvidas expressadas pelo aluno, mas também inclui perceber as dúvidas, os "conflitos cognitivos" que os alunos por vezes nem conseguem definir muito bem, mas que estão impondo restrições ao seu processo de aprendizagem. Por um lado, essa participação complexa do tutor é facilitada pelo fato de que os alunos são levados a se expressarem bastante em diversos ambientes, individualmente, ao longo de todo o semestre; por outro lado, isso exige observação atenta do tutor sobre cada aluno que acompanha. Mais do que isso: exige uma auto-observação das capacidades e dificuldades de aprendizagem, pois quando percebemos nossas dificuldades conseguimos também perceber mais facilmente as dificuldades dos alunos. Não que tenhamos o mesmo tipo de dúvidas, não que os processos de aprendizagem se repitam mecanicamente, mas ocorre que conseguimos entender e perceber processos cognitivos, conflitos, mudanças na forma de pensar sobre determinado tema. E, como também parendi no PEAD, mudanças são indicativos de cosntrução de conhecimentos novos.
Portanto, as atividades sobre desenvolvimento e aprendizagem realizadas nesse semestre de 2008/1 ajudaram a entender a estruturação do curso PEAD no sentido dos pressupostos epistemológicos, além de compreender o papel dos tutores como facilitadores desse processo.
Uma estratégia que adotei no último semestre e que considero interessante para companhar os alunos foi fazer um registro da sua evolução. Criei duas planilha em Excell contendo os nomes dos alunos e as atividades, uma planilha para cada uma das duas disciplinas que acompanhei. Em cada atividade eu colava o comentário que eu tinha feito no webfólio. No próximo semestre, pretendo ampliar esse regitro anotando regularmente informações adicionais que eu tinha anotado apenas eventualmente no semestre passado. Essasinformações podem ser desde um dado mais objetivo, como "postou com atraso", até outras mais complexas, por exemplo: "parece ter feito com muita pressa", "caprichou mais do que na atividade anterior", "mostrou contradição nos conceitos de transmissão e construção", "parece não ter entendido bem o objetivo da atividade, pois...", etc. Anotando coisas desse tipo para cada a atividade, no final do semestre é possível ter uma "raio x" do processo todo, individualizado. E o melhor: o Excell admite grande quantidade de texto arquivado em cada célula, pois se mantém a estrutura visual prática da tabela permitindo ao mesmo tempo visualizar todo o texto desejado apenas clicando na célula. Com essa estratégia, não só registro a evolução de cada aluno, como também consigo identificar quais são os temas recorrentes, as contradições, ou seja, encontro com mais facilidade a ponta do "nó" congnitivo em que ele eventualmente possa se encontrar. Faço esses registros na hora que leio e comento as atividades. É um pequeno trabalho a mais, mas Excell é muito prático e no fim compensa porque facilita o acompanhamento do semestre.
Comments (1)
espead said
at 8:56 am on Aug 23, 2008
Marcia,
Revisando teu trabalho com muita atenção, considero que realizaste uma boa reflexão sobre tuas aprendizagens no âmbito pedagógico. Observo que houve empenho e dedicação, o que certamente qualifica teu trabalho nas atividades de tutoria. Destaco o acompanhamento individual que fazes do desempenho dos alunos.
Parabéns
Maria Martha Dalpiaz
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