Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Faculdade de Educação
Curso de Especialização em EAD
Nome: Mauro Meirelles
De uma maneira geral, muitas das teses apresentadas eu já conhecia em razão de meus estudos na área. Todavia é sempre interessante retomarmos tal material a partir da perspectiva e da leitura de outros pesquisadores da área de Educação. Neste sentido, também é interessante ver a forma como diferentes profissionais, provenientes de áreas diversas do conhecimento interpretam os estudos de autores como Piaget, enfatizado por Rosane Aragon e suas aulas.
Também, destacou-se, ao meu ver as discussões fomentadas pela profa. Mérion Bordas e a Marta acerca de Tardiff, outro autor que já possuía algumas leituras, mas que, para muitos dos que estavam ali era uma referência nova. Ainda neste sentido, lembro que, como foi comentado em aula, esse autor é um daqueles que exige uma leitura prévia de outros, uma vez que, concatena em sua perspectiva diversas tendências e propostas de se pensar a Educação e a forma como se dá o processo de ensino-aprendizagem na escola, assim como, a divisão social do trabalho escolar.
Outrossim, ao invés de fazer um quadro do antes e depois do trabalho e das discussões nas disciplinas , prefiro, me utilizar aqui dos recursos de um texto, onde procuro mostrar algumas das coisas que percebi, pois, não considero, pelo menos no meu caso, factível, fazer essa separação entre o antes e o depois, uma vez que, o conhecimento é algo dinâmico e em constante construção.
E, por falar em construção de conhecimento retomo aqui dois avanços interessantes que me ocorreram em relação ao processo de aprendizagem a partir de Piaget e o modelo por ele proposto, sobretudo, no que tange ao processo de equilibração/desequilibração e algumas leituras que tinha acerca do que é comumente denominado de aprendizagem significativa. A primeira delas se refere a abordagem dialético-conflitiva que este dá a sua teoria a partir dos escritos de Marx, transmutando-as em etapas mentais que ocorrem no nível das idéias tais como a constatação objetiva (daquilo que está dado), sua problematização a partir de novas experiências que desequilibram o sistema (aquilo que é novo) e a forma como isto é incorporado ao sistema a partir do processo de reequilibração (busca da síntese). Neste sentido, vejo agora, a partir do referencial das Ciências Sociais que a dinamicidade do pensamento de Marx transpassa o dê Piaget e dá a ele um corpus e resistência muito grande na medida em que permite sempre rever, reavaliar e produzir novas sínteses de modo que com isto, Piaget, consegue escapar dos modelos fechados propostos por outros teóricos contemporâneos e sucedâneos a ele que com o tempo, dada as mudanças e a sua incapacidade de síntese de novas experiências não previstas acabam por serem relegadas as porões da história e as disciplinas de história da educação.
A segunda, se refere a própria idéia de aprendizagem significativa, desenvolvimento este dado a teoria cognitiva por Ausubel e que, dentre outras coisas contribuições, permite que, façamos um leitura do mundo e do processo de aprendizagem a partir das sínteses que são produzidas no processo, algo que, para mim, até pouco tempo, não era uma leitura possível mas que, a partir dessa nova compreensão dos estudos de Piaget a partir do viés dialético-conflitivo mostrou-se, a partir de então, dotada de sentido.
Já no que tange um dos outros autores trabalhados, qual seja, Tardiff, destaco que para mim está foi uma leitura tranqüila na medida em que já possuía algumas leituras do mesmo e já conhecia muitas das críticas e proposições por ele apresentadas e “sabia” a quem estavam dirigidas. Contudo, uma coisa novamente se fez presente, qual seja, a importância daquilo que Bourdieu denomina de vigilância epistemológica visto que, tanto como professores como quanto tutores de EAD, se faz importante que saibamos onde estamos pisando e quais as implicações que se fazem presentes no momento em que determinadas formas de pensar a educação e avaliar o aprendizado são adotadas, as quais, dado os diferentes contextos educacionais, podem implicar em resultados bastante diversos e contrários aqueles que esperamos.
No que se refere exclusivamente as atividades desenvolvidas no curso e seu impacto no meu próprio processo de ensino-aprendizagem acredito que as que representaram maiores avanços para mim foram aquelas que envolviam o debate em sala de aula através de aulas expositivo-dialogadas, contudo, acho que este debate poderia ter sido mais proveitoso na medida em que outras leituras poderiam ter sido feitas e poder-se-ia ter tentado produzir um maior envolvimento do corpo discente como um todo através de outras estratégias que os incentivassem a uma leitura mais aprofundada do texto, como por exemplo, a criação de um Fórum de Discussão ou Grupo de Trabalho, os quais se encarregariam de trazer novos elementos e vieses para a discussão. Especificamente, dada a dinâmica a partir da qual se desenvolveram as atividades ao longo do semestre, acredito que essa mudança na forma como realizava minha leitura do mundo e de algumas proposições apresentadas pelos professores a partir da obra de Piaget e Tardiff, são o resultado conjunto de duas ações, uma que se produziu através do debate e sala de aula (desequilibração) e outra que se deu pós-sala de aula, num tempo diverso ao tempo escolar, e que, permitiu-me uma nova síntese e leitura de autores que me eram familiares (reequilibracão) a partir de uma outra ótica como já comentei anteriormente neste texto.
Como já coloquei um pouco antes, creio que no meu caso, as atividades foram boas sobretudo aquelas de natureza síncrona que forçam-me a dar respostas concisas e pontuais a questões apresentadas, o que, geralmente se fez presente nas aulas ministradas pelos professores do curso e na maioria das atividades presenciais. Contudo, no que se refere ao uso do wiki e dos quadros de referência ali postados creio que, pelo menos no meu caso, dado a minha forma de aprender e pensar sobre novas leituras foram de pouco proveito pois, costumo, debater, avaliar e validar diferentes pontos de vista para em seguida produzir sua síntese através de minhas anotações, as quais primam, fundamentalmente, por aquilo que é significativo para mim de modo que não me atenho a marcos estanques tais como “esse autor disse isso“ ou “aquele disse aquilo”, formato comum presente nos quadros de referencia que geralmente são produzidos. Neste sentido, posso falar de sínteses gerais que realizo, as quais representam para mim certezas momentâneas que são sempre colocadas a prova a partir de novas discussões realizadas em sala de aula ou com colegas nos corredores da universidade – deste modo, poderia dizer que trabalho com algo que se poderia chamar de constelações conceituais que são a todo momento revistas e atualizadas e que, para mim, seria muito mais proveitoso a realizam de fóruns de discussão, as quais exigem o engajamento e a construção de um ponto de vista conciso e forte, o que, se fez presente em grande medida, nas aulas expositivo-dialogadas ocorridas no decorrer do semestre que neste momento finda.
Outrossim, dado o exposto até aqui e a dinâmica que norteia meu modo de ser e estar no mundo, além é claro, de ter maior simpatia por abordagens pró-ativas em relação ao aluno creio que é nas aulas expositivo-dialogadas e em fóruns de discussão que esses resultados se mostram mais fecundos e que, também, essa não é a realidade da maioria dos alunos. Contudo, acredito que essa diversidade deve ser trabalhada e que cada aluno tem um ritmo e uma forma de aprender, ser e estar no mundo – e que isso deve ser respeitado.
Ainda nesta direção, ao meu ver e dadas as discussões realizadas no decorrer do semestre posso dizer que, neste momento, dado a minha vivência do processo e aquilo que observo em outros colegas que, o processo de aprendizagem e desenvolvimento de novos saberes é extremamente dinâmico e que deve envolver todos que nele participam pois, o aluno não aprende sozinho, nem o tutor ou professor sabem tudo, mas que, estes, devem-se ter em conta que são seres incompletos que, a cada interação com esse outro que é o aluno, assentam novos saberes neste ou em si próprios. Como dizia Paulo Freire em tempos outros, ensinar e aprender é dar-se conta de nosso incompletude.
E por fim, no que tange ao trabalho do tutor com o aluno, e deste com o professor, creio que, do ponto de vista daquilo que discutiu-se ao longo deste curso de especialização e, em especial, no transcorrer deste semestre, que é fundamental sempre por parte deste, uma postura que dê espaço para tanto para o “velho” como quanto para “novo”. E com isto o que quero destacar, do meu ponto de vista, é que cada aluno é está, e é, uma realidade a parte, fato que, implica em diferentes formas de proceder e agir com relação a cada aluno ao qual presta tutoria. Neste sentido, para além de modelos pedagógicos fechados é preciso que o tutor seja o elo de ligação entre o aluno e o professor, uma vez que, ele é a ponte que liga os dois mundos e deve se capaz de operar, as vezes, em dois sistema diferentes – um do aluno, outro, do professor. Contudo, enquanto mediador do processo de aprendizagem, este, deve também ser capaz de promover tanto a desequilibração como a equilibração dos esquemas do aluno com vistas a produção de sínteses estruturadas, as quais, implicam em novas aprendizagens por parte tanto do primeiro como quanto do segundo.
Outrossim, ao meu ver e em razão de minhas aprendizagens no corrente semestre acredito que, para além de metodologias e esquemas estruturados de sistematização, o tutor tem que ser antes de mais nada criativo e capaz de se adaptar a diferentes modelos e formas de ensinar e aprender de modo que, use o conhecimento acadêmico a favor do processo de aprendizagem e não como entrave para o desenvolvimento deste processo – motivo pelo qual considero mais profícua a troca de experiências realizadas no decorrer da disciplina e nos debates e discussões realizadas do que a produção de quadros de referência e leituras isoladas de textos por parte dos tutores que participam deste processo permanente de formação promovido por este curso de especialização que ora realizamos.
Comments (1)
espead said
at 7:57 pm on Aug 19, 2008
Mauro,
Mesmo não seguindo as indicações propostas na avaliação, realizaste uma reflexão interessante, inclusive propondo outros elementos de análise.
Parabéns.
Maria Martha
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